Recebemos uma missão de Cristo: ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura. Mas afinal, que evangelho tem sido pregado? É sobre Ele ou sobre nós?
Eu cresci imaginando que teria um ministério grandioso e explosivo, com milhares de vidas salvas e reconhecimento em diversas partes do mundo. O que até poderia acontecer, afinal eu jamais limitaria ou duvidaria do poder de Deus ao agir através de uma pessoa comum como eu, contanto que meu coração estivesse no lugar certo. Mas ele não estava, meus desejos não eram íntegros o bastante para se encaixarem nos propósitos do Reino, eles eram apenas um emanharado de fantasias vaidosas que buscavam servir a apenas um senhor: meu ego.
Em meio a esse processo, eu me perdi muito da base, do começo, dos primeiros passos. Afinal, se eu não estava cheia de pessoas a minha volta, visualizações delirantes e uma biografia grandiosa em andamento, eu certamente estava fazendo algo errado, eu certamente não estava cumprindo o tão famoso “chamado” e precisava me apressar. Quando eu me lembro disso, fico triste comigo mesma. Percebo que eu desejava conquistar nações sem conhecer a Bíblia, sem entender nada de teologia (por puro descaso), sem olhar para o irmão do lado, sem me interessar pelas histórias triviais dos idosos da minha pequena igreja. Percebo que eu estava tentando construir uma casa na areia, uma história cheia de “revelações pessoais” e poucas verdades pautadas pelo próprio Deus.
Quanto mais eu estudo as escrituras e todas as discussões que permearam nosso caminho aqui, menor me sinto. O evangelho me constrange e me relembra que não há nada de bom em mim, que eu apenas recebi uma graça imerecida que deve ser compartilhada em amor, seja no extraordinário, seja no ordinário, seja para muitas pessoas, seja para poucas pessoas. Eu me cansei de tentar encontrar uma grandiosidade em mim que só existe no Pai, eu assumi a minha trivialidade, meu coração comum que deseja ser cada vez mais humilde.
Isso nada tem a ver como mediocridade. Não é sobre fazer o mínimo, é sobre ser excelente em todas as coisas. Não é sobre viver dia após dia sem esperar nada, mas sobre crer em Deus nos momentos grandiosos e nas manhãs cinzentas e normais, afinal, por mais movimentada que seja a nossa vida, todos temos momentos normais e meramente rotineiros. Não é sobre desprezar a grandiosidade de Deus que pode sim nos levar a lugares inimagináveis – e extraordinários – mas sobre entender que Ele é o verdadeiro protagonista, enquanto nós somos apenas servos da sua vontade.
Esse desejo de mostrar uma grandiosidade própria, ao meu ver, é um dos grandes autores das heresias modernas disfarçadas de frases de efeito. Acreditamos tanto em uma essência própria e única que exala de nós mesmos que desprezamos a palavra viva, a tradição, os estudos profundos de grandes homens e mulheres que vieram antes de nós e resolvemos fazer do nosso jeito. E isso também explica a quantidade de pessoas que consome esse tipo de conteúdo, afinal, ali elas encontram um espelho do que esperam para si mesmas. Uma vida permeada apenas por experiências individuais, picos de energia e pouca constância.
O Senhor fala sim conosco de maneira única e direcionada. Cada um de nós pode — e deve — ter um diário com Cristo e ali colocar uma série de respostas e ministrações, mas temos que ter muito cuidado ao transformar isso em dogma e doutrina, em fórmulas para os outros. Temos que ter muita cautela também ao depender somente de momentos “emotivos” para dizer que houve um toque do Pai. Ele fala em todo o tempo, estudar a sua palavra é reconhecê-lo e encontrá-lo, é viver uma vida de renovação, aprofundamento e revelação, mesmo que isso leve mais tempo — e mais esforço — do que imaginamos.
Oro para que tenhamos equilíbrio todos os dias, para que o nosso ego diminua e Ele cresça em nós. Esse é um caminho árduo, mas valioso e recompensador.
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