Eu nunca tive coragem de fazer uma lista, logo eu, a menina que faz listas em todos os momentos, sejam eles oportunos ou não. Mas não pra isso, não para todos os romances que eu já tive o prazer – e o desprazer – de assistir, ler, consumir. Eles com certeza não são incontáveis, mas também não são poucos. Eu me impressionei mais de uma vez com as histórias contadas e com a capacidade que os autores tinham de descrever tantas emoções intocáveis, invisíveis e inconstantes.
Hoje, eu me pergunto quantos deles de fato conheciam o amor que clamavam conhecer. Eu mesma escrevi tantas vezes sobre um amor romântico que jamais havia arrebatado o meu coração, que era apenas o produto das minhas interpretações profundamente teóricas. Quer dizer, paixões platônicas tive aos montes, mas amor? Nas minhas doces ilusões de menina, eu juntei cacos de filmes, séries, livros e pessoas próximas a mim para formular minhas próprias mentiras e verdades. Quando eles diziam “Gabriela, cuidado com as suas expectativas”, mal sabiam que elas já estavam me afetando antes que qualquer um fizesse isso comigo.
Mas agora, eu não consigo mais imaginar alguém. Por tantas vezes eu deitei minha cabeça no travesseiro e contei pra mim mesma uma bela história. Eu sonhei acordada com as cores do nosso casamento, com o nosso primeiro café da manhã juntos, com a cor dos olhos dos nossos filhos, mas eu não consigo mais. E isso não se deve a qualquer trauma romântico. A verdade dolorosa não é essa, mas que eu não consigo mais criar personagens porque em algum ponto dessa caminhada eu descobri o que é amar alguém de verdade, com toda a minha alma e coração. Eu vivi amores de mentira, mas vivi um amor de verdade e ele foi o bastante pra me marcar profundamente. E mesmo que eu, de modo tão egoísta, monte alguém em meus sonhos, algo sempre me lembra que esse ser fantasioso nunca será real. Em meus pensamentos eu não posso dar a ele cicatrizes, lembranças, paixões e nem dúvidas. E o quão justo isso pode ser com o ato de amar?
Eu vivo dizendo que se eu pudesse voltar no tempo, tentaria acreditar de uma maneira diferente, talvez eu eliminasse 80% das histórias românticas que acompanharam minha adolescência. Mas eu acredito que esse nem seja mais o ponto. Eu sei as dores que tudo isso me causou, mas eu sei também o que descobri sobre mim mesma em meio a essas mesmas lágrimas. De fato, eu tentaria não esperar tanto de alguém, eu tentaria não manipular meus pensamentos pra viver um clichê romântico. Mas quem sabe se eu conseguiria?
O que eu sei é apenas o que posso fazer hoje. Eu tenho vivido a minha vida, tenho compreendido quem sou e do que gosto, em que acredito e em que jamais poderia acreditar. E mesmo que eu continue chorando ao ver cenas perfeitas demais, há uma certeza pacífica em meu coração de que aquilo pertence à ficção e não mais a mim. E você pode me perguntar se eu já não acredito mais, se uma parte de mim realmente desistiu. Eu diria que sim, mas essa não é a verdade completa. Ainda há resquícios de fé aqui, do pouco que consegui reunir das histórias verdadeiras que vivi. Mas agora é diferente porque essas fagulhas não estão acesas por qualquer um ou pela ideia de alguém. Elas estão adormecidas esperando pelo que é real, pelo que é único, pelo que carrega em si uma individualidade que eu jamais tentarei encaixotar novamente. E vai ser como como tiver que ser, não como um dia alguém tentou me fazer acreditar que seria.
Vai ser como sussurrar uma melodia que sempre esteve em mim, mas que eu ainda não sabia cantar por completo.
Foto: Unsplash
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